Mesada: o que deixar para os filhos?

Mesada: o que deixar para os filhos?

Não à toa, a primeira pergunta que se faz no processo de planejamento financeiro pessoal é: qual o seu contexto familiar?

Não à toa, a primeira pergunta que se faz no processo de planejamento financeiro pessoal é: qual o seu contexto familiar?

Família conversa diretamente com dinheiro: Quem faz renda? Qual a dinâmica da casa? Se tem dependentes econômicos? Quais as expectativas e preocupações com esses? E… O que deixar para os filhos?
Entre fraudas, vacinas, alimentação, escolas, passeios, brinquedos… e todas as escolhas relacionadas ao estilo de vida que queremos proporcionar aos filhos e suas consequências no fluxo de caixa… até a sucessão e o legado de princípio, valores e patrimônio que desejamos passar para eles… existe o papel vital dos pais na educação dos filhos, e com a educação financeira, não é diferente.
A planejadora financeira, Karoline Cinti, responde algumas perguntas sobre o assunto e sinaliza caminhos promissores. Acompanhe:

1) Como você acha interessante que esse processo se dê? Tem algum método ou orientação prévia?
K.C.: Primeiramente, é importante definirmos o que não é mesada. Mesada não é uma obrigação, e sim educação. Ela não pode ser usada como recompensa ou prêmio por bom comportamento ou boas notas, como remuneração por alguma tarefa que o filho realiza em casa, ou ainda como presente. Estudar, obedecer e respeitar as regras do lar e as rotinas de suas atividades são obrigações das crianças e precisam ser entendidas como tal.
Além disso, a mesada deve ser dada pelos pais quando puderem e definida de acordo com o seu orçamento, sem comparações com outras crianças e adolescentes, seja da mesma idade ou da mesma turma da escola ou vizinhos. Cada família possui contextos de renda, tamanho e prioridades diferentes. E aqui, já aparece a primeira lição que o filho deve aprender: viver de acordo com sua realidade.
A partir daí, o método utilizado para o pagamento da mesada pode ser de acordo com a idade do filho. Até os 10 anos, é interessante que a criança recebe semanada, por causa da dificuldade que os pequenos possuem em lidar com o tempo até essa fase. Eles percebem o ciclo semanal conforme a alteração da rotina diária e final de semana, em que eles não vão para a escola e os pais ficam em casa. A ideia aqui é que eles comecem a se familiarizar com o dinheiro. Dos 10 aos 15 anos, a frequência pode passar a ser quinzenal. Nessa idade eles ainda são muito imediatistas, e assim poderão aprender a lidar com a ansiedade e se prepararem para a mesada, a partir dos 15 anos.

2) Você acha que os pais devem instruir os filhos de que forma quanto ao uso do dinheiro?
K.C.: A mesada é o direito de decisão que a criança ou adolescente passam a ter sobre o que fazer com o próprio dinheiro. Sendo assim, se por um lado é importante dar liberdade de escolha e também deixar que os filhos falhem, por outro, apenas dar o dinheiro e não os ensinar a administrar os recursos, não funciona. Eles podem gastar muito ou nada! É preciso trazer o assunto para a mesa.
Comecem estipulando o valor da mesada de acordo com às necessidades e expectativas da criança. Para os menores, vale estabelecer um valor em que eles possam pagar suas pequenas vontades mais imediatas, como um sorvete, figurinhas e brinquedinhos, e também guardar na carteirinha deles ou no cofrinho. Já para a mesada, é importante incluir valores suficientes para algumas necessidades do jovem, como o lanche da escola, o transporte e o lazer, mesmo que os pais tenham condições de pagar todas as despesas dos filhos além da mesada. Caso contrário, ao invés de educá-los, estará ensinando a gastar sem limites. Além disso, deixem que eles cuidem do próprio orçamento e façam os pagamentos. Não dê dinheiro se acabar. Deixem que eles experimentem e vivenciem as consequências do mau uso dos recursos. É melhor falirem agora do que depois! Mostrem que confiam neles.
Levantadas as necessidades, aproveite para incluir uma quantia a mais, a fim de que haja sobra. E então, ensinar as crianças a economizar e guardar dinheiro para realização de desejos maiores! Um brinquedo, um vestuário mais caro, um show, uma viagem com a escola… Uma coisa fundamental: não dê de presente o que elas estão se esforçando para comprar! A falta estimula o desejo. E, mesmo com os meios de pagamento mais convenientes, como o cartão de crédito e débito, o bom e velho papel-moeda é a melhor forma de entender o valor do dinheiro. Se tem, compra, se não tem, não compra.
É essencial que os filhos através da mesada, tenham contato e vão entendendo como lidar com os vários tipos de despesas – fixas, variáveis, sazonais e temporárias… e também com seus diferentes destinos – necessidades mais básicas, reservas financeiras e sonhos e objetivos! Por último, outro ponto que merece destaque em relação a quantia, é o cuidado que os pais precisam ter para a mesada não competir com o valor médio de um primeiro estágio ou trabalho remunerado que os filhos terão, a fim de que eles não sejam desestimulados a querer fazer o próprio dinheiro.

3) Dizem que o exemplo é a melhor fórmula para educar filhos. Nesse quesito: “capacidade de administrar receitas e despesas”, você acha que funciona assim? Filhos de pais que administram bem suas finanças têm mais chances de serem assim também?
K.C.: O exemplo dos pais são a principal influência para os filhos. Porém, isso não significa que o destino dos filhos seja seguir o padrão dos pais. Mais do que ‘administrar receitas e despesas’, nosso contato com o dinheiro começa cedo na maneira como percebemos nossos pais e sociedade se relacionando com ele e com o trabalho, o valor e o cuidado dado, se com responsabilidades ou dores, se com prazer ou culpa. Daí surgem nossas primeiras crenças e significados que damos ao dinheiro.
É preciso estar atento ao que falamos e em como lidamos com o dinheiro. Não raro, vemos pais se sentirem culpados por trabalharem o dia inteiro, por exemplo, e usarem presentes para o conjugue e os filhos como forma de compensar sua ausência. Cada vez mais, as pessoas estão colocando o dinheiro no meio das relações e criando dívidas emocionais.
No fundo, o dinheiro diz sobre nossas escolhas e como tomamos decisão. E a mesada, vai refletir naquilo que os pais acreditam e nos valores que querem passar para os filhos. Dizem que as crianças são os melhores professores! A mesada pode ser uma excelente oportunidade de trocas entre pais e filhos, e dos adultos resgatarem suas essências e lições tão importantes muitas vezes esquecidas. Se nossa criança tem o poder de sonhar, nosso adulto tem a capacidade de realizar!

4) Então, a mesada pode ser uma boa forma de educar financeiramente o filho?
K.C.: Com certeza! Dinheiro conversa com limites, consequências, escolhas, prioridades, sonhos, erros, autonomia, confiança, consumo consciente, poupança, riscos, frustração, realização, capacidade de resolver problemas, criatividade, flexibilidade, sentimentos e razão!
Educar financeiramente o filho é capacitá-lo a fazer o melhor uso do dinheiro. Para isso, é preciso treino, e a mesada nesse sentido pode atuar como um importante instrumento, evitando que a criança chegue a fase adulta cometendo os mesmos erros da infância. Se a criança aprende a lidar com o dinheiro no presente, aumenta as chances de ela ter uma vida econômica mais equilibrada no futuro, trazendo consequências econômicas positivas para si e para o país.

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  • Rodolfo Lima
    24 de outubro de 2018, 16:59

    Muito Bom o conteúdo!

    RESPONDER

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