A participação das mulheres no mercado de trabalho aumentou de 50 anos para cá. Grande parte das mulheres com mais de 60 anos hoje, dedicavam-se aos trabalhos domésticos, rurais ou voluntários.
Por Karoline Cinti – planejadora financeira
Há pouco mais de 150 anos, a mulher conseguiu o direito à educação e alfabetização, a frequentar escolas de ensino fundamental, e depois superior. Até o início do século passado, nossas avós e bisavós não podiam votar, trabalhar, nem mesmo possuir bens e patrimônio. Para ter um depósito bancário em seu nome, ou mesmo receber herança, a mulher casada precisava da autorização do marido. Ao homem cabia ser o provedor e trazer o sustento da casa, e à mulher, o cuidado do lar e dos filhos.
A participação das mulheres no mercado de trabalho aumentou de 50 anos para cá. Grande parte das mulheres com mais de 60 anos hoje, dedicavam-se aos trabalhos domésticos, rurais ou voluntários. As grandes tomadas de decisões em relação ao destino do dinheiro eram feitas pelos homens. A contribuição das mulheres no orçamento da casa se dava mais com a gestão dos gastos do dia-a-dia. Interessante observar como isso ainda se reflete nas dinâmicas familiares atuais, em que o homem normalmente assume a responsabilidade pelas contas fixas, como aluguel e energia, e a mulher fica com as despesas variáveis, de alimentação e vestuário. E justamente por cuidar das despesas mais diárias e recorrentes, como indo às compras de mercado e utensílios com frequência, é que a mulher adquiriu fama de ser mais consumista.
Hoje, a maioria de nós tem acesso ao conhecimento, a uma atividade profissional e à renda. Representamos mais de 50% da população mundial e influenciamos 80% das compras da família. Mesmo que ainda tenhamos aspectos sociais que influenciam nossa relação com o dinheiro – como o fato de ocuparmos cerca de 37% das funções de direção e 10% dos cargos políticos, e também a desigualdade de remuneração – aquela bagagem cultural e histórica acaba influenciando as crenças femininas e suas formas de lidar com as próprias finanças. Para transformar esse cenário, precisamos olhar nossos sentimentos e tomar posse da nossa autonomia e protagonismo.
É essencial atribuir um novo sentido ao dinheiro em nossas vidas!
Quando falamos em lidar com as finanças no sentido de capacidade de gestão e/ou perfil de consumo, não há distinção de gêneros. Há mulheres poupadoras, homens consumistas e vice-versa. Da mesma maneira que encontramos, tanto mulheres como homens, com mais ou menos facilidade de organização e controle das contas. A diferença aparece nas preferências e prioridades do que comprar, e no comportamento em relação aos investimentos.
Pesquisas mostram que a maioria das mulheres que querem empreender, por exemplo, são motivadas pela maior flexibilidade de tempo e sua prioridade é com a educação e bem-estar da família, e esse enriquecimento da mulher acaba retornando em crescimento da sociedade. Por outro lado, homens tomam mais riscos, se preocupam mais com status, e priorizam hobbies e convívio social. Nos investimentos, eles fazem mais operações de compra e venda, em busca de maior rentabilidade no curto prazo. Enquanto elas são mais conservadoras, estudam melhor as alternativas e tendem a ganhar mais no longo prazo, pois mantêm suas posições por mais tempo, sem mudanças bruscas e menos custos.
Porém, ao ir em busca de liberdade e direitos, a mulher vem se comportando cada vez mais de maneira parecida com os homens, principalmente no ambiente de trabalho. Acontece que homens e mulheres possuem habilidades e características diferentes, e é aí que se encontra a beleza da coisa. É importante respeitar e dar lugar para essas diferenças. Sob o olhar do planejamento financeiro, é difícil pensar em uma carreira linear nos dias de hoje. A mulher que deseja ser mãe e/ou cuidar dos pais na velhice deles, passará por intervalos e pausas na profissão. O empoderamento feminino não pode ser confundido com “guerra de poder”, mas antes com promoção de autonomia.
Não podemos construir relações amorosas e/ou profissionais com base na dependência econômica. Quando o dinheiro sai da mesa, conseguimos estabelecer vínculos mais verdadeiros e equilibrados, inclusive em relação aos papéis que queremos ter. Isso também vale para os homens. Homens e mulheres possuem um feminino e um masculino para desenvolver.
Para a mulher que tem dificuldade de lidar com finanças, o conselho é enfrentamento! Primeiro, olhar para os números. É preciso cuidado e consciência sobre o destino dos nossos gastos. Planejamento financeiro é pessoal, não podemos delegar ou terceirizar nossos sonhos e valores. Além disso, lidar bem com as finanças independe de quanto se faz de dinheiro. Há muitas mulheres com renda alta, que estão endividadas, gastando mais do que ganha, e o que é pior, não se satisfazendo. Segundo, olhar para as emoções. Perceber se há culpa ao comprar um presente para o filho porque trabalhou o dia todo, se há compensação ao ir às compras devido ao um desentendimento com um familiar querido, se há medo de crescer na carreira e achar que vai perder sua essência, ou ainda se há preocupação de fazer mais dinheiro que o companheiro e o perder. É essencial atribuirmos um novo significado e sentido para o dinheiro em nossas vidas.
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