Saiba como casais com rendas diferentes podem se planejar financeiramente para manter a relação saudável.
Saiba como casais com rendas diferentes podem se planejar financeiramente para manter a relação saudável.
É interessante observar como, para boa parte dos casais, a importância do diálogo não se aplica quando o assunto é Dinheiro. A especialista em planejamento financeiro, Karoline Cinti, conta que é comum encontrar casais que acreditam não poderem falar sobre o assunto: “É como se falar sobre dinheiro fosse falta de amor. Porém, a todo momento, o dinheiro aparece no meio das relações, mandando mensagens não ditas sobre quem somos, nossas necessidades e como estamos nos sentindo”.
E quando aparecem segredos dos dois lados, seja em relação a quanto cada um ganha, o que cada um possui, ou mesmo o que devem, surge a situação chamada “infidelidade financeira”. Uma situação que pode causar desequilíbrio na relação, trazendo incômodos e desconfianças.
Para aprendermos mais sobre a questão, Karoline Cinti responde algumas perguntas:
1) Quais fatores mais influem na dinâmica financeira do casal e como lidar com as diferenças?
Karoline: “A dinâmica do casal em relação ao lidar com o dinheiro pode ser influenciada por várias frentes: perfis semelhantes ou opostos, comportamentos consumistas ou poupadores, habilidades de gestão, diferenças de renda e/ou de patrimônio, repetições de modelo. O ideal é que o casal sempre converse sobre seus sonhos e valores, necessidades e preocupações, e construam planos juntos. Com isso, será menos tabu conversar sobre suas finanças, dando lugar aos desejos e emoções individuais, aumentando a intimidade e o sentimento de cumplicidade, com base na razão e na escolha consciente, e não nos padrões estabelecidos pela sociedade e nas crenças da família de origem”.
2) Modelos de famílias cada vez mais diversos trazem impacto nas relações financeiras?
Karoline: “O retrato da família tradicional, em que o homem era o único provedor da casa, pouco a pouco, foi se transformando nos diversos contextos familiares e de relações afetivas atuais: famílias-mosaico, de pessoas que vieram de outras relações, muitas vezes com filhos de ambos os lados; relações homoafetivas; pessoas que vivem juntos sem a intenção de se casarem, ou mesmo terem filhos. E, consequentemente, isso trouxe reflexo nas relações financeiras entre os casais, ainda mais sendo comum ambas as partes fazerem dinheiro. Se antes tínhamos a figura de um arcando com 100% das despesas, hoje, fomos para um outro extremo em que o senso comum é dividir metade para cada um. A questão é que, quando há diferença de renda entre os casais, dividir tudo igual pode não ser a melhor forma. O cônjuge ou companheiro que ganha mais, acaba tendo uma maior capacidade de poupança e também de assumir maiores gastos, muitas vezes tendencioso a puxar o estilo de vida do casal para um nível mais alto. O risco é que passamos a ter um “rico” e um “pobre” na mesma casa, com chances da pessoa que ganha menos se endividar, ao tentar acompanhar o ritmo da outra. O ideal é que as despesas sejam distribuídas proporcional a renda de cada um.
3) Existe uma proporção indicada para distribuição orçamentária entre cônjuges com rendas diferentes?
Karoline: “Podemos partir da proporção da renda, o quanto cada um faz de dinheiro e contribui com o orçamento comum. Por exemplo, se um ganha R$ 3.000, o outro R$ 2.000, e as despesas são R$ 4.000; se dividirmos essas meio a meio, sobraria para o primeiro R$ 1.000, enquanto o segundo ficaria “zerado”. Agora, se optarmos por uma divisão em que um é responsável por 60% das despesas, equivalente a R$ 2.400, e o outro por 40%, isto é, R$ 1.600, haverá uma capacidade de poupança de R$ 600 e R$ 400, respectivamente, ambas de 20% em relação a renda individual”. Vale destacar que isso trará reflexos significativos também na construção do patrimônio particular e comum do casal, suas reservas financeiras, investimentos, preparação para aposentadoria, aquisições de bens, dentre outros, promovendo a autonomia dos dois seja no curto ou no longo prazo.
4) Assim, é possível equilibrar as contas comuns e ainda preservar as necessidades individuais?
Karoline: “Sim. É importante salientar que o que é básico para um pode não ser para o outro. Isso significa que mesmo as escolhas ligadas as contas mais comuns impactam na individualidade e valores particulares. Em geral, consideramos como despesas básicas de um orçamento, os gastos com moradia, alimentação e transporte. Acontece que na hora de tomarmos uma decisão de “onde morar?”, para um o básico pode ser a localização, enquanto para o outro ter uma área de lazer para receber amigos. Nas compras de mercado e/ou idas a restaurantes, um pode procurar por preços menores e o outro por opções de comida mais saudáveis. Na escolha de um carro, um pode ser mais aventureiro, e querer uma categoria esporte, enquanto a profissão do outro exige uma linha com mais status. Por isso, quando falamos do planejamento do casal, é sempre importante ouvirmos primeiro as necessidades individuais de cada um, entender suas motivações, valores e origens. E, a partir daí, começar um diálogo e entender o que cada um quer preservar, e o que abrem mão para a união e vai para o orçamento comum. Porque a conta precisa fechar!
Além de tudo isso, existem os hobbies e sonhos de cada um, e ainda aspectos diferentes da família e da profissão de cada. Por exemplo: um pode gostar de música e colecionar discos, e o outro de esportes, tendo gastos com equipamentos. Um sonha com uma viagem, o outro em empreender. Um possui filhos de outra relação e tem gastos com pensão, o outro é autônomo e tem despesas com impostos, aluguel de sala e contabilidade. Por isso, é importante reconhecer as particularidades de cada um, entender a receita total e definir bem qual a receita disponível para a casa. É fundamental o casal estabelecer planos comuns e individuais. Até porque quando gastamos nossos recursos e esforços em benefício do outro, e percebemos suas conquistas, também nos realizamos. E, isso só é possível se houver conversa, confiança e nos sentirmos seguros.
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